O desenvolvimento das competências orais é um aspecto importante na aula de língua estrangeira. Os materiais didáticos contemporâneos costumam incluir diversas estratégias para o trabalho da fonética. Neste artigo, Adriana Oblak, estudante do curso de formação de professores de português do IESLV “Juan R. Fernández” analisa a proposta do livro Manual Nota 10.
A proposta fonético-fonológica do manual Nota 10: português do Brasil
Adriana Oblak
Por que será que quando aprendemos uma língua estrangeira como o português é tão difícil conseguir uma boa pronúncia? Porque cometemos sempre os mesmos erros? Porque alguns aprendizes conseguem aprimorar a pronuncia e outros quase não conseguem avançar?... Ora, é muito comum que o aluno, no momento de entrar em contato com novas estruturas linguísticas, comece a reflexionar a respeito. Perante a estes questionamento, nós professores, devemos deixar em claro, como ponto de partida, que a língua que aprendemos é nossa segunda ou terceira língua e que nunca vamos falar de maneira e do jeito como o faz uma pessoa nativa.
Além disso, devemos estar cientes que a língua materna pode influir muito na aprendizagem da língua estrangeira porque o aluno a utiliza constantemente como fonte de conhecimento, mais precisamente no aspecto fonológico. Os erros de pronúncia dos hispanofalantes se dão quando a pronúncia é um aspecto diferente entre o espanhol e o português. Por exemplo, o aluno irá em busca da língua materna, entendendo que o sistema fonológico da língua estrangeira funciona como o da língua materna. Outras falhas provocadas por fatores que dificultam a aquisição da língua estrangeira são idade e a fossilização. Quanto ao primeiro, a idade, alguns autores afirmam que existe período crítico - dos 4 aos 5 anos, dos 11 aos 12 anos ou dos 15 aos 16 anos depois do qual seria muito difícil falar uma língua estrangeira tão corretamente quanto a língua materna. Em se tratando à fossilização, trata-se de erros e desvios no uso da língua estrangeira, internalizados e difíceis de serem eliminados, o que provoca que o aluno fique eternamente na fase da interlíngua, sem chegar nunca ao desenvolvimento certo da língua estrangeira.
Apesar desses fatores, não devemos desalentar os alunos para a aquisição de uma boa pronúncia, já que uma aprendizagem adequada e significativa, além de muita vontade e prática por parte do aluno são suficientes para aprimorar a pronúncia de maneira positiva.
É por isso que o novo livro didático da editora Lidel intitulado Nota 10: Português do Brasil como língua estrangeira para o nível elementar apresenta os tópicos fonéticos-fonológicos de uma maneira criativa e significativa para os aprendizes.
Em cada capítulo do manual aparecem diversos exercícios fonéticos-fonolófgicos. Por exemplo, as atividades se baseiam em aprender a ouvir as consoantes ou vogais que apresentam maior grão de dificuldade para os aprendizes como o “L” e o “E”.
Além disso, o livro Nota 10 também inclui uma unidade sobre o português europeu com o objetivo de sensibilizar o estudante para algumas diferenças lexicais, gramaticais e fonológicas entre as duas variantes.
Através desses exercícios, as autoras do livro pretendem que o aluno reflexione sobre as diferenças na pronúncia e na grafia para começar a fazer distinções entre o como é dito em sua língua materna e como na língua alvo. É importante destacar também que o áudio que acompanha o livro foi realizado por falantes nativos das diversas regiões do Brasil. Isso conscientiza o aprendiz de que existem muitas variedades de português no Brasil e no mundo.
A meu ver, Nota 10 contempla muito bem a aprendizagem da fonético-fonologia, mas, do meu ponto de vista, não é suficiente para desenvolver a capacidade de pronunciar uma língua estrangeira. A professora que trabalha com este manual deveria realizar atividades extras como: ler em voz alta material textual foneticamente significativo; imitar em coro o professor, a gravação de áudios de falantes nativos e o de vídeo de falantes nativos; fazer ditado, entre outras. Além disso, o educador deveria contar com uma proposta metodológica para aprimorar as competências fonético-fonológicas, por exemplo: expor os alunos à produção oral da língua antes de passar ao sistema escrito, para garantir a pronúncia e evitar que aplique a regra fonética do espanhol às grafias em português; ensinar fonética num contexto de uso da língua. Portanto, a pronúncia não deve ser tomada como área separada, mas como parte da língua; e sensibilizar o aluno através de diversos áudios e vídeos de que existem diversos sotaques da língua portuguesa.
Em poucas palavras, além das atividades propostas pelo livro didático o educador deverá escolher as estratégias que mais se adaptem a seus alunos para levá-los a pronunciar adequadamente.
Referencias Bibliográficas
DIAS, Ana e FROTA, Sílvia (2015). Nota 10: português do Brasil. Portugal. Editora LIDEL
Nota 10 - Português do Brasil (amostra do livro). Disponível em:<https://issuu.com/lidel/docs/nota10> Último acesso: 20-06-2015
Comments