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Laura Vizcaya & Ignacio Spina

Grooming: reflexões e ações


O presente artigo nasce como uma produção escrita realizada na disciplina Língua Portuguesa IV do curso de formação de professores de português. A estudante de quarto ano, Laura Vizcaya, desenvolve no presente texto um ponto de vista crítico respeito de uma problemática contemporânea de grande preocupação nas famílias e escolas: o grooming.

 

O grooming


Por Laura Vizcaya


As tecnologias e o avanço da Internet permitiram aos jovens se adentrar num mundo desconhecido. Um mundo que traz muita facilidade para as atividades do quotidiano, que nos aproxima informação e às vezes nos afasta da realidade.


Essa nova realidade “virtual” está composta não só pelo conteúdo e a informação que contém, mas também é feita por pessoas que dia a dia se relacionam entre si “virtualmente”.


A partir dos avanços tecnológicos, nos vemos obrigados a repensar a relação entre adultos e menores. Serão eles, os que já nasceram imersos nesse mundo, que nos vão ensinar como é que funciona, como se utilizam as diversas ferramentas que oferecem as novas tecnologias.


Mas que acontece quando não entendemos ou não queremos nos aproximar? Como guiar as crianças num terreno desconhecido ou que pode até nos incomodar?


Um dos perigos mais frequentes da Internet, e que traz consequências que podem ser irreversíveis, é o “grooming”. Este termo originário do inglês é utilizado para definir o aliciamento de menores através da Internet, com o intuito de se buscar benefícios sexuais.


O grooming consiste em ações de sedução cometidas por um adulto para contatar uma criança pela Internet com o objetivo de ganhar sua confiança e amizade. Isto pode ser feito por redes sociais, e-mail, mensagens de texto, sites de bate-papo ou páginas de jogos online que permitem a comunicação entre os participantes.


Quem está por trás do grooming (adulto) o que trata é de conseguir fotos, vídeos e, em alguns casos, até mesmo o contato físico com menores através de encontros presenciais. Isto será possível pelo uso de perfis ou identidades falsas, geralmente pretendendo ter a mesma idade da criança “alvo”, e que são utilizados para criar confiança, laços emocionais e atingir a desinibição das vítimas.


Então, como podemos prever essas situações? e se já aconteceram, como agir e denunciar? Segundo o especialista em seguridade informática argentino Sebastian Bortnik, fundador da ONG (Organização Não Governamental) “Argentina Cibersegura”, é muito importante não privar as crianças do uso da Internet em busca de evitar riscos, pelo contrário, os adultos responsáveis devem oferecer conselhos de proteção focados em um uso controlado e seguro da Internet.


Na Argentina, no ano 2013, foi sancionada a Lei de Grooming (lei 26.904 artigo 131) que estabelece prisão de seis meses a quatro anos para as pessoas adultas que por meio de comunicações eletrônicas, telecomunicações ou qualquer outra tecnologia de transmissão de dados, contatar uma pessoa menor de idade, com o objetivo de cometer qualquer delito contra a integridade sexual da mesma.


Existem também diversos programas de prevenção oferecidos pelo Estado, que junto com a possibilidade de denunciar a partir da sanção da lei, servem para aumentar a conscientização e a participação e orientação dos adultos responsáveis e professores.


É muito importante manter um diálogo aberto com as crianças e explicar os perigos da Internet. Também ficar atento aos amigos virtuais que eles têm e, na medida que for possível, instalar softwares de segurança que impedem a navegação em páginas consideradas suspeitas. Além disso, e tendo em conta que um dos atos principais do grooming é o aliciamento do menor através de presentes, é necessário prestar atenção se a criança aparece em casa com objetos de origem duvidosa.


Todas estas medidas, junto com campanhas de conscientização na escola e na mídia, servem para que num futuro a cibersegurança ocupe um lugar essencial em todos os âmbitos onde se utilize tecnologia, e especialmente na vida das famílias com crianças.

 

Da problemática à temática:

O Grooming na Educação Digital

Por Ignacio Spina


Quando li o trabalho de Laura -realizado na minha aula de Língua Portuguesa 4- apesar do triste do conteúdo, senti certo alívio ao saber que esses temas são conhecidos e flutuam no discurso coletivo cotidiano. De fato, Laura, além de uma futura professora, é mãe e, por ter escolhido esse tema para o seu trabalho de linguagem, não é um fato menor, pois ela nos diz que é um assunto importante para ela e pelo qual ela se preocupa.


Como parte de minha rotina de trabalho atual, trabalho como designer de conteúdo pedagógico da Educação Digital no Ministério da Educação da cidade de Buenos Aires. Felizmente, com o passar do tempo, mais e mais professores e membros da comunidade educacional reconhecem o que estamos falando quando falamos sobre Educação Digital.


Alguns anos atrás, quando eu contava o que estava fazendo, às vezes as pessoas pensavam que eu estava dando aulas de informática. Mas não, eu não sou. Meu papel na Gerencia de Tecnología e Innovación Educativa está ligado ao desenvolvimento da Educação Digital como parte da política educacional da jurisdição.


Existem muitas maneiras de entender as tecnologias na educação. Muitas vezes as relacionamos como meios capazes de nos oferecer oportunidades educacionais para o desenho de propostas de ensino. Não é que a Educação Digital não se baseie nessa perspectiva, mas é verdade que ela pretende ir -e vai- muito além disso.


É, de fato, um campo de conhecimento vinculado ao advento das tecnologias, entendidas como objetos culturais e não como meros artefatos vazios. Em outras palavras, não está instalado na dimensão instrumental do uso das tecnologias, mas as problematiza de uma perspectiva social.


Diferentemente da perspectiva técnica, a abordagem da Educação Digital se concentra na expressão, cidadania e desenvolvimento social dentro da estrutura de uma sociedade desafiada por uma cultura digital. E, como todo campo de conhecimento cujo objeto se encontra no campo das relações humanas, é complexo entender, ao estudar fatos históricos irreproduzíveis que não podemos ir a um laboratório para estabelecer regularidades e formular previsões.


E mesmo que nossas tentativas sejam focadas na elaboração de leis ou especulações probabilísticas, o ritmo exponencial em que a cultura digital se desenvolve dificulta ainda mais o estudo.


Daí a minha satisfação de saber que, como membros de uma sociedade muitas vezes desorientados ou iniciantes nessas questões, desenvolvemos alguma consciência desses aspectos. Ao contrário de outros problemas que geralmente buscam abordar políticas educacionais -como o cyberbullying- o Grooming na Argentina goza de reconhecimento legal que nos dá outra margem de ação. Sem entrar em detalhes técnicos da institucionalização da legislação, podemos pelo menos afirmar que isso faz parte da agenda política de nossos legisladores e se traduz em programas de ação e prevenção.


Particularmente o Ministério da Educação da cidade de Buenos Aires vem produzindo conteúdos educativos já há alguns anos. É por isso que hoje, além de reflexões, em matéria de grooming, podemos falar também de ação. Com efeito, sem essa possibilidade nosso papel de educadores seria frustrante. Mas é esperançador.


Fico orgulhoso de ler o trabalho de Laura como um conjunto de reflexões relevantes e significativas para uma futura docente e mãe. Neste sentido, aproveito o espaço para oferecer ao leitor conteúdos e materiais para a abordagem educativa, prevenção e ação legal frente ao grooming e outras problemáticas vinculadas ao uso seguro de internet.







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