Esta coluna de María Laura Iopolo, estudante da ENS LV “Sofía Spangenberg”, propõe uma série de reflexões a respeito dos imaginários sociais e educativos da avaliação – habitualmente confundida com acreditação -, os seus verdadeiros propósitos e sua importância nos processos de ensino e aprendizagem.
Avaliação das aprendizagens: proposta para um debate
María Laura Iopolo
Semana passada, conversando com minha filha, contou-me que teve uma aula de Didática onde a professora, em roda de conversa, propôs para a turma que expressasse a primeira ideia que aparecia nas suas cabeças sobre o conceito “exame”; palavras que ela ia escrevendo no quadro preto. Disse-me que ao finalizar com as ideias que todos os alunos transmitiram, o resultado foi assombrosamente aflitivo e desalentador. Resultou mais ou menos assim: medo, dor de barriga, estresse, preocupação, palpitações, vergonha, ansiedade, fugir, inquietação, apreensão, dentre outros, mas sempre relacionados ao desconforto que sentiram ante a situação de serem examinados.
Tendo em vista que alguns pedagogos consideram que avaliar é identificar necessidades para a melhora continua, com o propósito de obter um processo de ensino-aprendizagem de sucesso, por que não conseguirmos que os alunos sintam frente a tal situação uma sensação de confiança, possibilidade, melhora, enriquecimento, evolução?
Conforme Cipriano Carlos Luckesi, reconhecido pedagogo brasileiro, especializado em avaliação de aprendizagem, “provas e exames são apenas instrumentos de classificação e seleção, que não contribuem para a qualidade do aprendizado nem para o acesso de todos ao sistema de ensino”. Evidentemente, o tema dá para o debate e é controvertido demais.
Certamente, algumas conceições sobre avaliação ficaram obsoletas e é inconcebível que, na atualidade, não saibamos transmitir para os nossos estudantes o sentido transcendental que a avaliação tem no processo de ensino-aprendizagem.
Na maioria dos casos, o sistema educativo leva os professores a se limitar somente a qualificação, mensurando os resultados obtidos pelos alunos para acabar atestando uma nota. Mas, avaliar não é simplesmente botar um número para o aluno.
Além do mais, não se pode perder de vista, que nem somente deve-se focar o assunto para o papel do aluno, mas do professor. É necessário que o educador seja consciente que se deve avaliar um processo, que é reflexo dos conhecimentos que o aluno adquiriu. Nesse processo intervêm os métodos de ensino, os recursos utilizados, a motivação ou predisposição do professor, o contexto, a família. Porém, sempre o culpado acaba sendo o aluno.
É necessário que o professor considere a avaliação como uma ferramenta para diagnosticar de forma contínua o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, para empregar as intervenções necessárias com o conjunto dos integrantes do processo, em função dos objetivos planejados.
Assim, avaliar é, sobretudo, um trabalho de reflexão permanente que os professores devermos fazer, e que está em relação às metas e objetivos que desejarmos concretizar.
Certamente, se avaliar é simplesmente qualificar, é possível que a aprendizagem do aluno acabe sendo memorístico e não significativo. O aluno vai “aprender” (?), mas de forma mecânica, memorística. Nesse sentido, é interessante o conceito que coloca o Professor David Perkins, com seus sinos de alarme, quem utiliza os conceitos de conhecimento frágil ou esquecido, inerte, ingênuo e ritual, para explicar que os alunos não conseguem lembrar o aprendido com o passo do tempo, esquecem os conhecimentos transmitidos ao momento de utilizá-los, ou relacioná-los, ou seja, não chegam à internalização dos conhecimentos, não conseguem levá-los à prática, à vida quotidiana deles, ficando, portanto, sem razão nem sentido o propósito de educar.
Considero que a prática de ensinar, avaliar e aprender são conceitos diferentes, mas intimamente associados, e necessitam ser executados com esmero os dois primeiros, para chegar a ter sucesso no último, daí a importância da boa formação do professor para fortalecer o processo.
Deste modo, o professor passa a ser um facilitador das aprendizagens mediante a adaptação das atividades de ensino-aprendizagem, propiciando a retroalimentação, e comprovando continuamente o aprendido pelos alunos.
A avaliação, por tanto, é um processo no qual se identificam as necessidades dos alunos com o fim de servir do guia para tomar decisões, solucionar problemas y promover a compreensão dos fenómenos implicados.
Na atualidade, que tanto se discute o valor ou não da desaprovação, seria proveitoso refletir sobre o real objeto da avaliação. Se o leitor conseguir fazer isso, este artigo haverá atingido seu propósito.