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  • Valeria Carmona

Qual é o cheiro das flores?

A professora Valeria Carmona oferece uma valiosa reflexão sobre a prática docente em relação às atividades de produção que solicitamos aos alunos e como podemos motivá-los e acompanhá-los para desenvolver melhor esse processo. Compartilha também sua experiência e as atividades desenvolvidas nessa prática.

 

Qual é o cheiro das flores?

Refletindo sobre as propostas que levamos para a sala de aula PLE

Por Valeria Carmona


Mensagem da autora

Meu nome é Valeria Denise Carmona e sou professora de português formada no IES Lenguas Vivas "Juan Ramón Fernández" no ano 2020. Atualmente trabalho no nível médio. Gosto muito da literatura infantil e juvenil e, nas minhas aulas, sempre procuro dar a conhecer e trabalhar com literatura em português para abordar as diferentes temáticas, motivando e criando nos meus alunos hábitos de leitura prazerosa e reflexiva para, também, estimular a criatividade.

 

Qual é o cheiro das flores?



Itati e sua família moravam numa floresta tão rica em vegetação quanto perigosa por a sua localização. Cada um deles se encarregava de alguma coisa e a tarefa de Itati era procurar frutos e certas plantas para a sua mãe preparar as comidas. A menina gostava muito de sair na procura de alimentos porque ela amava andar pela floresta, ver os pássaros, alguns animais que estavam por aí e, sobretudo, ver as grandes flores coloridas.

Certa vez, Itati decidiu levar uma flor para a sua casa porque tinha gostado muito dela, mas a mãe reclamou. Irupé, quase sem saber, deu uma importante lição para a sua filha: as flores não têm que ser cortadas. Elas são livres e estão na floresta não só para enfei


tar, mas também para interagir com a natureza. É muito egoísta matar alguém por simples gosto de exibi-lo na sua moradia. Não é minha filha? Falou. Depois desse dia, Itati só desfrutava das flores na floresta e mais nunca quis cortar uma, pois como a sua mãe falou, ela estaria matando a planta.



Um dia, quando Itati chegou em casa, recebeu uma notícia terrível: a Irupé tinha desaparecido. Por meses, todos percorreram a floresta em busca dela, mas ninguém voltou a vê-la. A menina estava devastada, pois a sua mãe era sua grande companheira na sua vida.


Depois de muito tempo de solidão e tristeza, ela olhou as flores e pensou em quanto gostaria de sentir a presença da sua mãe outra vez, ver o seu rosto, ouvir a sua voz, sentir a sua pele, o seu cheiro único, qualquer coisa. Ela pediu tanto para o céu, mas sabia que isso era impossível. A sua mãe não voltaria e ela sabia-o, porém, o desejo e a pena continuavam crescendo no fundo do seu coração.


No dia seguinte e com a eterna esperança de encontrar Irupé no passeio pela floresta, Itati cheirou um aroma familiar, ela não podia explicar qual cheiro era. O seu nariz a levou para umas flores bem coloridas e ela ficou impactada. Essas flores ela já conhecia e, surpreendentemente, esse cheiro também. Mas de onde? De repente, ela compreendeu tudo e começou a chorar de emoção.


O céu havia escutado o seu choro e suas súplicas. Essas flores tinham o cheiro da sua amada mãe. Ela sabia que parte da alma de Irupé estava localizada no meio da floresta e, por fim, se haviam reencontrado. Essa tristeza que tinha invadido a alma da menina foi ficando cada vez mais pequena.


Conta a lenda que Itati cuidou tanto dessa planta que as flores continuam existindo até hoje e é por causa disso que o cheiro tão especial para ela com a grande lição que a sua mãe deixou nunca vai morrer.


É daí que as flores têm um cheiro tão agradável e tão especial que nos fazem sentir diferentes coisas, nos trazem lembranças tão especiais e nos transmitem tranquilidade na alma.


Dedicado à minha mãe, Claudia.

Valeria Carmona

 

Muitas vezes, no momento de pensar e planejar propostas para levar na sala de aula, esquecemos de algumas questões práticas. Vou contar uma experiência que me fez tomar conta dessa situação e, por sua vez, me fez explorar a minha própria criatividade através de um trabalho colaborativo.


No ano de 2020, no contexto de virtualidade obrigatória, durante o terceiro trimestre, com a turma de 2do ano da escola média trabalhamos a lenda como gênero textual. A lenda é uma narrativa de origem popular de tradição oral. Essas produções nascem da imaginação coletiva de um grupo de pessoas ou de um povo para explicar a origem de certos fenómenos naturais ou materiais. Ler mais


As lendas estão presentes no nosso cotidiano e são um reflexo da nossa cultura: o curupira no Brasil, o pomberito na argentina, por exemplo. Um personagem com características semelhantes, mas cada um

tem as suas particularidades, contexto e características próprias do contexto ao qual pertencem.


Porém, no momento de planejar a unidade e a sequência didática contemplei diferentes atividades para conhecer e analisar as características desse gênero a fim dos alunos lembrarem das particularidades desses textos em geral: O que é uma lenda? Quais são suas características? Qual lenda você conhece?


Em que tempo verbal estão escritas? Por que será que encontramos lendas muito semelhantes, mas com diferenças muito marcadas de região em região? Foram essas perguntas as que nortearam o trabalho com 2do ano e permitiram trazer as experiências dos alunos, os protagonistas das nossas aulas.


Sequência didática organizadora:




Como produção final desse projeto, propus que em duplas criassem a sua própria lenda e para poder acompanhar eles no processo, criamos uma estrutura que respeitasse tudo o que já conhecíamos sobre as lendas. Colocando alguns temas e perguntas provocadoras para eles começarem a pensar e a escrever, surgiram as inseguranças dos alunos, eles sabiam reconhecer uma lenda, mas escrever? Aí eram outros quinhentos…


Independentemente de ter trabalhado com lendas, senti que era justo eu mostrar um exemplo de uma “criação” própria. Como era possível que eu estava pedindo uma coisa que eu nunca tinha feito? Então foi assim que eu comecei a escrever e surgiram as dúvidas. Nesse momento, eu me senti aluna da escola média novamente e desse jeito, eu consegui pensar em ajudar, guiar e acompanhar os meus alunos. E foi assim que surgiu a lenda que você leu no começo. Ler mais


Compartilhei com os alunos tanto a produção quanto as perguntas que foram surgindo no momento da escrita: sobre o que escrever, como chamar os personagens, o cenário, etc. Contei para eles como tinha sido o meu próprio processo de escrita. Eu recebi ajuda da minha mãe, Cláudia, com os nomes dos personagens, segundo a localização implícita da minha lenda, e também de meu namorado, Marcelo, que fez para mim, depois de ter escutado a minha lenda, uma ilustração para acompanhar a narrativa.


Nesse momento, os meus alunos de 2do ano da escola média foram os leitores críticos, aqueles responsáveis de encontrar na minha produção os elementos característicos de uma lenda, mas também de emitir opinião sobre a história. Foi um encontro muito rico e conseguimos trocar ideias, responder perguntas, formular outros interrogantes, sentir mais confiança em nós mesmos e desfrutar do processo da escrita, explorando a nossa imaginação e criatividade de maneira grupal.


Alguns deles dedicaram as suas produções a algum ser querido como eu tinha feito, outros colocaram algum desenho ou imagem, alguns brincaram com a tipografia do texto e outros utilizaram recursos digitais mais inovadores do que Word para apresentar a sua produção. Os resultados desse projeto ficaram uma maravilha e o mais importante foi a iniciativa deles mesmos em compartilhar entre o grupo as suas produções de maneira oral. Algumas dessas produções foram: “A história da selfie”, “A lenda das primeiras flores que tinham cheiro”, “A cor das flores” e “Como nasceu a tarefa?”. Eles se sentiram seguros na aula, seguros de se expor e de compartilhar, foram expertos no assunto e debateram sobre as temáticas que poderiam funcionar ou não.


Realmente foi uma experiência muito criativa, colaborativa e, penso, significativa para os meus alunos. Tenho a certeza de que eles vão lembrar da experiência que veio ressignificar o conteúdo trabalhado.


E para você, qual é o cheiro das flores?

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