top of page
  • Foto del escritorrevistalusofia

Inclusão genuína das TIC na aula de línguas estrangeiras

Neste artigo Andrea Dayan Professora em Português, Editora, Diplomada em Ciências da Linguagem, Especialista em Tecnologia Educativa e Mestranda em Tecnologia Educativa convida-nos para fazermos um percurso por diversas alternativas que permitam a inclusão real das TICS na sala de aulas de língua estrangeira. Promovendo o seu uso consciente no desenvolvimento das quatro habilidades e favorecendo a reflexão dos professores e futuros professores nesse sentido.

 

Inclusão genuína das TIC na aula de línguas estrangeiras

Algumas orientações para o trabalho com jovens e adultos

Por Andrea Dayan

Historicamente os professores de línguas estrangeiras fomos incorporando a tecnologia disponível, a cada momento, a fim de aproximar os e as estudantes à língua alvo. Muitos foram os recursos tecnológicos, ao longo do tempo, dos que lançamos mão para que eles e elas pudessem acessar as expressões da língua e da cultura dos falantes nativos: desde discos e fitas magnéticas ao You Tube, já passaram tantos outros, tais como o VHS, o DVD, rádio e televisão e, atualmente, também aplicativos e redes sociais.


Não é, portanto, uma novidade, para nós, o mundo das TIC ligado ao ensinoaprendizagem da língua estrangeira. Contudo, a nossa prática não escapa a um novo desafio: que a inclusão da tecnologia em sala de aula seja genuína. Não se trata de trocar a folha de papel impressa por um PDF, mas de utilizar os recursos tecnológicos aproveitando a oportunidade para fazer com eles o que sem eles seria impossível ou muito difícil. Eis o uso “genuíno”. A sala de aula de alta disponibilidade tecnológica (veja quantos dispositivos tem na sua sala de aula agora mesmo? Provavelmente, no mínimo, um celular ligado à Internet por pessoa) é uma oportunidade para o enriquecimento do ensino, como diz Mariana Maggio[2] e também a chave de acesso da escola à era da informação.

Um bom começo é responder à pergunta: “Qual é o objetivo da atividade? ”. Conforme a resposta, escolheremos que tipo de recurso se adapta melhor aos nossos propósitos, (e não ao contrário). Vem a seguir alguns exemplos em que o uso de recursos tecnológicos faz toda a diferença.


Desenvolvimento da produção oral

O trabalho sobre a oralidade depende bastante de fatores, às vezes, bastante alheios à disposição de docentes e estudantes a respeito do ensino-aprendizagem da língua. A quantidade de matriculados no curso, por exemplo, é determinante no que faz a frequência de oportunidade para cada um de participar. Dispor de uma tecnologia adequada às condições físicas da sala de aula que permita uma reprodução adequada, também pode ser mais um empecilho. Mas, devemos renunciar ao trabalho da oralidade por isso? Não, de jeito nenhum! Alguns aplicativos podem contribuir na hora de aprofundar no desenvolvimento da produção oral e, ainda, potenciá-la.


Paula Sibilia[3], na sua obra Redes ou paredes: a escola em tempos de dispersão, fala de uma escola presente e futura, cujas paredes vão virando cada vez mais permeáveis ao que acontece do lado de fora, ao contrário da escola antiga, afastada do barulho, um lugar amuralhado para se concentrar.


Nossas salas de aula, mesmo que ainda conservem a estrutura da escola antiga, e de que existam professores que exijam celulares desligados, estão absolutamente atravessadas pelas redes. Nem só pela possibilidade de estar conectados, senão e sobre tudo, porque estar ligados à rede já constitui um traço cultural, uma prática cultural internalizada, enraizada. Então, como transformamos esta condição em oportunidade?


Atualmente, é possível na maioria dos casos, que um estudante tenha acesso a algum tipo de dispositivo ligado à Internet, próprio ou não, seja na instituição educativa, ou por fora dela.


Existem vários aplicativos que permitem gravar uma linha de voz. Alguns telefones celulares disponibilizam gravadoras de voz e também há muitos e variados aplicativos grátis para download. On line voice recorder, por exemplo, permite gravar e editar arquivos mp3. O SoundCloud além das gravações permite criar um listas de reprodução. O Whatsapp ou o Telegram também permitem gravar, mas regravar fica um pouco mais complexo: cada um deveria formar um grupo e pedir aos outros que saiam do mesmo para ficar sozinho e poder se enviar a si mesmo áudios.


Gravar a própria voz, uma e outra vez, atualmente é simples e barato. Escutar a própria voz reproduzida com boa qualidade também. Este exercício habilita um distanciamento da própria produção oral e, com ele, a possibilidade de autoavaliação, correção e autocorreção, e reflexão sobre a mesma.


O registro da produção nos permite voltar uma e outra vez sobre ela e medir avanços ao longo do curso em termos de dicção, entoação, fluência. Um exercício interessante seria gravar pelo menos uma produção individual (um relato, uma leitura, por exemplo) ao início do curso, uma no transcurso e outra chegando ao fim para que os

Sem dúvida é uma prática riquíssima, que potencia a autonomia na aprendizagem e que requer a escuta atenta dos e das docentes e de sua orientação aos estudantes, em termos de dicção e entoação para evitar a frustração e atingir seu máximo aproveitamento.

Algumas sugestões: gravação de apresentações pessoais, relatos no passado, vídeo currículums (tão na moda atualmente no Brasil), resenhas de livros ou filmes, vídeo chats. Para os estudantes de professorado seria interessantíssimo produzir uma vídeo aula breve, ao estilo youtuber (e, por que não, postá-la em redes sociais).


Construção colaborativa do conhecimento

Vigotsky explica na sua teoria que a aprendizagem é mais eficaz trabalhando com outro (seja professor, colega, o mesmo um computador) capaz de executar o papel de andaime. É na interação que o aprendiz constrói seu conhecimento e pode partir de seu desenvolvimento atual para o potencial. A aprendizagem ocorre na zona de desenvolvimento proximal: o espaço entre o nível de desenvolvimento real do aprendiz (aquilo que ele é capaz de fazer sozinho) e o nível de desenvolvimento potencial (aquilo que ele será capaz de realizar após a aprendizagem).


O que o professor ou a professora deve levar em conta, na hora de apresentar atividades de tipo colaborativas, é verificar que as consignas realmente requeiram o trabalho de todos os envolvidos e que não possa ser resolvida por apenas uma pessoa.


Providenciar uma tabela num documento on-line, na qual cada um dos participantes se compromete a fazer uma tarefa específica, ou bem, incluir uma enquete no final do trabalho em que os participantes avaliem a colaboração e sugiram formas de melhoramento na interação para uma próxima oportunidade, são instrumentos que podem contribuir, ao passo de conversar com a turma sobre a importância do compromisso nas tarefas grupais.


Textos construídos on-line de forma colaborativa

Atividades como gerar uma análise comparativa de um romance e de sua versão cinematográfica, um informe de leitura crítico sobre um texto acadêmico, por exemplo, podem ser boas oportunidades para trabalhar um texto de forma colaborativa.

Programas como Google doc ou Zoho fornecem a ferramenta para compor textos entre vários autores ao mesmo tempo que contam com espaço para o diálogo entre eles mediante os comentários.


Para trabalhar entre vários num mesmo documento é preciso estabelecer antecipadamente aspectos diversos como tipo textual (será um relatório, um ensaio, uma monografía?), como regras de “convivência” (respeito à produção alheia, por exemplo: não dá apagar o escrito por um colega sem dar explicações), entre outros.


Abre-se é um espaço interessante para a negociação de saberes e para estimular a prática de estabelecer consensos após a devida argumentação das partes. O docente age como mediador e pode sugerir formas de interação que contribuam para uma comunicação construtiva e inclusiva.


Neste tipo de atividade, também pode ser proveitoso estabelecer papéis entre os participantes: alguém é designado para o “final cut” na redação, alguém na revisão, alguém na ilustração, etcétera, de maneira que sejam aproveitadas as habilidades e capacidades diferenciais de cada integrante do time. No resultado final, a sinergia é perceptível: o que fica é maior do que a soma das partes e todos aprendem do modo de trabalhar dos colegas.


Busca e compartilhamento de informação e de produções

Uma opção interessante para este propósito é trabalhar na construção de um muro como, por exemplo, os que oferecem os aplicativos Mural.ly, Glogster ou Padlet. Neles, os e as estudantes podem postar o resultado de suas buscas, suas produções (texto, linha de voz, vídeo, imagens, etc.), compartilhá-las com colegas e professores, além de dar uma avaliação nas produções alheias e comentar.


Na hora de trabalhar com vídeos é importante conversar a respeito das condições de produção e recepção das nossas comunicações: apresentação pessoal, dicção, organização do discurso, entre outras.


Para a produção escrita, é possível postar opiniões nos comentários e fazer upload de documentos de texto em formato Word ou PDF.


Também é possível criar propostas grupais, de modo que os diferentes grupos trabalhem em outros aplicativos de forma colaborativa e, depois, compartilhem o link com o resto da turma. Por exemplo, cada grupo pode trabalhar um assunto em um documento Google docs ou produzir uma infográfica em Canva, Gennialy, Venngage e, a seguir, incluir o link no muro.


O muro é um instrumento que pode ser enriquecido, gradativamente, para ir acrescentando diferentes tipos de produções e recursos conforme vão se desenvolvendo as habilidades linguísticas e em recursos tecnológicos. Além disso, oferece uma boa oportunidade para trabalhar habilidades sociais, uma vez que o professor permita fazer comentários e avaliações entre estudantes, nas quais deve prevalecer, além do uso apropriado da língua, o respeito e a crítica construtiva.


Exemplo 1: Padlet. A consigna foi achar informações do tipo da lida em sala de aula e comentar sobre o assunto. Estudantes de nível básico postaram textos breves e acrescentaram links de vídeos relacionados.


​​

Exemplo 2: Padlet. A consigna era falar sobre a semana passada. Os estudantes postaram textos de sua produção e áudios sozinhos ou em diálogo com um colega. Alguns comentaram sobre as produções dos colegas e avaliaram utilizando a ferramenta das estrelas. A professora sugeriu nos comentários opções para resolver problemas que apresentavam as produções escritas e orais.


Desenvolvimento da competência comunicativa e de habilidades sócio emocionais

No seu trabalho, Transmedia Literacy. Exploiting transmedia skills and informal learning strategies to improve formal education, Carlos Scolari pesquisou sobre as atividades e os saberes adquiridos em termos de mídia por parte dos adolescentes, por fora do aprendizado formal. As atividades vão desde escrever fanfiction até retoque de fotografias, passando pela gestão de conteúdos ou a organização de partidas de videogames a nível internacional. Todas requerem habilidades que os e as jovens adquirem de maneira informal, em geral mediante a autoaprendizagem.

O objetivo da pesquisa era levar essas habilidades e conhecimentos adquiridos, na sua maioria mediante a autoaprendizagem, para a sala de aula.


Se bem nem todos os adolescentes têm a possibilidade de desenvolver as 44 habilidades descritas por Scolari e seu time, é verdade que muitos jovens contam com várias delas e que os professores podem sugerir atividades nas quais o uso das mesmas seja causa de motivação.


Uma boa proposta em que essas habilidades e saberes adquiridos fora da escola podem ganhar sentido em sala de aula é a de criar uma revista ou jornal digital multimídia em língua estrangeira.


Trata-se de uma atividade que promove o melhoramento não só da competência comunicativa, senão também das habilidades sócio emocionais, ao passo que estimula o pensamento crítico e o desenvolvimento de uma atitude responsável em termos de cidadania digital.


Tudo isso é porque numa publicação em língua estrangeira os e as estudantes, além de desenvolver habilidades no campo da tecnologia, precisam:

  1. Determinar o propósito da publicação (difundir eventos, informar, ensinar, fazer refletir etc.);

  2. Selecionar temas os aspectos de interesse sobre a língua e a cultura alvo que resultem de interesse desde uma perspectiva intercultural;

  3. Produzir e /ou selecionar textos, imagens, áudios, vídeos, levando em conta a normativa sobre direitos autorais;

  4. Levar em conta qual seria o público alvo e, assim, determinar registro, vocabulário, complexidade dos textos, etcétera;

  5. Criar espaços de feedback com o público e promover, desde esses lugares, um diálogo rico e construtivo.

Cria-se um documento de Word, guarda-se como PDF e já pode ser distribuído. Também existem aplicativos como Paper.li, Flipsnack, Issu, Madmagz, entre muitos outros, que permitem a partir de um documento em PDF criar revistas digitais, com material multimídia, e oferecem ferramentas de design razoáveis nas versões gratuitas.

O acompanhamento docente é indispensável para orientar o passo a passo, visto que se trata de uma produção complexa e que envolve diversos saberes e habilidades. O trabalho colaborativo dos estudantes junto com os professores pode ser riquíssimo desde que seja feito com compromisso e motivação suficientes. A proposta que se apresenta é uma experiência significativa na qual todos os participantes deverão jogar seu papel ativamente na tomada de decisões e avaliar conjuntamente o processo e o resultado de sua produção. Finalmente, refletir sobre formas de melhorar cada um dos passos faz parte relevante também da experiência.


Tomara que as experiências e propostas aqui apresentadas sirvam de inspiração para suas práticas. Com certeza, você saberá aprimorá-las e será capaz de criar uma proposta superadora e mais adequada às necessidades de seus estudantes.

 

[2] Maggio, Mariana (2012) Enriquecer la enseñanza. Los ambientes con alta disposición tecnológica como oportunidad. Paidós, Buenos Aires.


[3] A edição em espanhol: Sibilia, Paula (2012) ¿Redes o paredes? La escuela en tiempos de dispersión. Tinta Fresca, Buenos Aires. A edição em português: Sibilia, Paula.(2012) Redes ou paredes: a escola em tempos de dispersão, Tradução de Vera Ribeiro. Contraponto: Rio de Janeiro. Também é muito interessante a apresentação de Sibilia nas “24.° Jornadas Internacionales de Educación- Feria Internacional del Libro de Buenos Aires”, em avril de 2015, “Convivir y aprender entre redes o paredes” estudantes apreciem seu progresso. Também funciona muito bem para o treinamento de diálogos em pares.

0 comentarios
bottom of page