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  • Lara Belén Blasi

Contraste no uso das conjunções nos idiomas português e espanhol

O seguinte artigo, que a professora Lara Belén Blasi desenvolveu como trabalho final para a disciplina Língua Portuguesa 4, examina o contraste entre determinadas conjunções nos idiomas português e espanhol, ao mesmo tempo que analisa o problema da interlíngua relacionado a esse tópico e a importância de evitar a fossilização.

Além da análise contrastiva, oferece orientações pedagógicas e uma atividade como proposta de trabalho.

 

Contraste no uso das conjunções nos idiomas português e espanhol

Por Lara Belén Blasi


O português e o espanhol são línguas muito similares e, ao contrário do que parece, isso pode afetar negativamente o processo de aprendizagem dos alunos hispano falantes de português como segunda língua. É por isso que faz-se necessário conhecer as etapas que atravessam e contrastar as diferenças de ambos os idiomas para, posteriormente, levar esses aspectos em conta no planejamento das aulas.


Em relação às etapas na aquisição da língua estrangeira, um aspecto importante é a fossilização dos alunos que têm interlíngua. Por interlíngua entende-se o sistema intermediário que desenvolve o aluno entre a língua materna e a língua-alvo. Almeida Filho (2004) explica que é um fenômeno natural do processo de aprendizagem de uma nova língua que está em construção com um sistema orgânico próprio influenciada pela L1 mais fortemente no início, mas com o objetivo de adquirir a língua-alvo.


Além disso, Almeida Filho (2004) acrescenta que este fenômeno, que é muito frequente no caso de línguas muito próximas, como o português e o espanhol, ocasiona “uma situação sui generis de parcial falsa facilidade com repercussões para a construção da interlíngua". Quando isso acontece o aluno progride muito no início, mas “tende a estacionar logo numa interlíngua baixa característica, o portunhol", tão conhecido e temido pelos professores.


É de fundamental importância trabalhar a interlíngua porque, segundo Ferreira (2002), se for amplamente permitida, pode causar a fossilização. Este fenômeno acontece quando "o aprendiz deixa de progredir em direção à língua-alvo e não distingue entre os dois sistemas linguísticos, o da língua materna e o da nova língua". Como resultado da fossilização, os aprendizes, geralmente, não percebem que estão mantendo na sua interlíngua aspectos que não fazem parte do sistema da língua-alvo, mas da língua materna.

Pela observação dos aspectos analisados, identificar as áreas problemáticas dos alunos hispano-falantes de Português como língua estrangeira e fornecer material didático que as abordem a partir de uma análise contrastiva, vai fazer com que os sujeitos sejam conscientizados das disparidades entre ambos os sistemas linguísticos.


Além disso, Ferreira (2002) afirma que seguindo a abordagem comunicativa ou pós comunicativa, devem ser privilegiadas atividades que favoreçam um espaço de comunicação e uso autêntico da língua-alvo para que os alunos possam ver casos de uso da vida real e consigam aprofundar ainda mais nos contrastes e características próprias de cada idioma.


Em vista dos argumentos apresentados, este artigo pretende analisar as diferenças semânticas decorrentes do uso das conjunções no português e no espanhol e a preferência dos tempos verbais dependendo de cada caso. Além disso, será acompanhado de uma atividade que servirá de modelo de como colocar em prática tudo o que foi aqui exposto.



Comparação e classificação das conjunções

Evanildo Bechara na obra Moderna Gramática Portuguesa de 2009 define as conjunções como “unidades que têm por missão reunir orações num mesmo enunciado”. Estas unidades podem ser classificadas como coordenadas e subordinadas.


Segundo Bechara (2009) as conjunções coordenadas reúnem orações que pertencem ao mesmo nível sintático: dizem-se independentes umas das outras e, por isso mesmo, podem aparecer em enunciados separados. Especificamente falando das conjunções coordenadas que têm usos diferentes ao espanhol é possível falar de algumas adversativas, que como seu nome indica expressam oposição de ideias.


No que diz respeito a este tipo de conjunções, Bechara faz uma diferenciação. Ele estabelece que as conjunções unicamente são: mas, porém e senão. Já as outras, ele as classifica como sendo unidades adverbiais com certa proximidade de equivalência semântica, e é por isso que as gramáticas tradicionais incluem certos advérbios que estabelecem relações intertextuais nessa classificação. Esse é o caso de pois, logo, portanto, entretanto, contudo, todavia e não obstante. Neste caso, mais uma vez serão somente explicadas aquelas que apresentam contraste com o espanhol.


CONJUNÇÕES PORTUGUÊS

Exemplo

CONJUNÇÕES ESPANHOL

Exemplo

Logo: conjunção coordenada conclusiva

Tentei chegar cedo ao encontro, logo saí muito cedo.

Luego: advérbio de tempo

Iré al encuentro y luego volveré a mi casa.

Todavia: conjunção coordenada adversativa

Tentei chegar cedo ao encontro, todavia cheguei atrasado.

Todavía: advérbio de tempo

Todavía no llego al encuentro porque estoy atrasado.


  • Resulta importante lembrar aos alunos que o uso destas conjunções é extremamente formal e é exclusivo da língua escrita no registro formal.


Quanto às conjunções subordinadas Bechara (2009) estabelece que é a conjunção que “transpõe oração degradada ou subordinada ao nível de equivalência de um substantivo capaz de exercer na oração complexa uma das funções sintáticas que têm por núcleo o substantivo.” uma oração complexa é aquela que tem um ou mais dos seus termos sintáticos sob forma de uma oração subordinada.


Bechara (2009) classifica as conjunções subordinadas em dez sub categorias, mas conforme foi previamente falado, o foco somente estará naquelas que apresentem contrastividades de uso com o espanhol.


Causais (exprimem causa, motivo): uma vez que (com modo indicativo) e desde que (com modo indicativo)

  • Uma vez que chove em São Paulo, será adiado o evento na Paulista.

  • Desde que chove em São Paulo, será adiado o evento na Paulista.

Condicionais (exprimem condição): desde que (com modo subjuntivo) e uma vez que (com modo subjuntivo)

  • Não me importa o tamanho do apartamento, desde que tenha sacada.

  • Não me importa o tamanho do apartamento, uma vez que tenha sacada.

Temporais (exprimem tempo): quando (com futuro do subjuntivo), enquanto (com subjuntivo), logo que, assim que.

  • Assim que cheguei a casa começou a chover.

  • Logo que cheguei a casa começou a chover.

  • Quando estiver de férias, vou ler todos os livros atrasados desta coleção.

  • Eu cuidarei do cachorro da minha irmã enquanto ela estiver viajando.


PORTUGUÊS

ESPANHOL

CAUSA Uma vez que chove em São Paulo, será adiado o evento na Paulista. Desde que chove em São Paulo, será adiado o evento na Paulista.

(TEMPO)

Una vez que llegue al evento, nos encontraremos.

Desde que llegué al evento, no logro encontrarte.


CONDIÇÃO

Não me importa o tamanho do apartamento, desde que tenha sacada.

Não me importa o tamanho do apartamento, uma vez que tenha sacada.

No me importa el tamaño del departamento, siempre y cuando tenga balcón.

No me importa el tamaño del departamento, mientras tenga balcón.

TEMPO

  • Assim que cheguei a casa começou a chover.

  • Logo que cheguei a casa começou a chover. (expressa imediatez)

  • Quando estiver de férias, vou ler todos os livros atrasados desta coleção.

  • Eu cuidarei do cachorro da minha irmã enquanto ela estiver viajando.

  • Locução conjuntiva consecutiva: ASÍ QUE Comenzó a llover, así que llegué rápido a casa.

  • LUEGO QUE não expressa a mesma imediatez que em português, é mais próxima a CUANDO

  • Neste caso CUANDO estará acompanhada de presente do subjuntivo e não futuro:

Cuando esté de vacaciones voy a leer todos los libros atrasados de esta colección.

  • EN CUANTO indica imediatez de tempo: En cuanto llegué a casa comenzó a llover

Tendo em vista os aspectos observados no presente artigo, é incontestável a importância de que os professores conheçam as etapas e dificuldades principais que atravessam os alunos de português como língua estrangeira. Em consequência disso, nota-se que esses itens têm que ser o ponto de partida na hora de planejar o conteúdo das aulas, visando sempre a fornecer material didático significativo que contenha exemplos da vida real, tornando mais evidente o contraste entre a língua materna e a língua segunda.


Como exemplo do que já foi teorizado, a seguir será apresentada uma atividade em relação ao tema central deste artigo. Se você gostou, compartilhe-o com outros professores e faça a atividade proposta com seus alunos hispano-falantes de português!





Referências bibliográficas


Almeida Filho, J. C. P. de (Org.) Questões da interlíngua de aprendizes de português a partir ou com a interposição do espanhol (língua muito próxima). In: Simões, A., Carvalho, A., Wiedemann, L., Tesser, C., Johnson, K., & Jensen, J. et al. (2004). Português para falantes de espanhol. Campinas, SP: Pontes.


Bechara, E. (2009). Moderna gramática portuguesa. 37. ed. rev., ampl. e atual. conforme o novo Acordo Ortográfico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.


Ferreira, I. A. Português/espanhol: fronteiras linguísticas que devem ser delimitadas. In: Cunha, M., & Santos, P. (2002). Tópicos em português Língua estrangeira. Brasília: UnB.


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