A convite da UNSAM, o escritor moçambicano Mia Couto visitou a República Argentina em setembro de 2016 para oferecer o seminário África Austral na Cátedra Coetzee Literaturas del Sur. Neste marco aceitou o convite dos professores da ENS Lenguas Vivas "Sofia E. B. de Spangenber" e promoveu uma riquíssima conversa onde desenvolveu temas variados a respeito da história, da vida, das crenças do povo moçambicano e da sua própria existência e participação na independência do país.
Recebido pelas autoridades da instituição e acompanhando o percurso que propôs,todos os presentes ficamos envolvidos em anedotas e histórias que aproximaram o público da sua visão da vida e da realidade.
O presente artigo tem o intuito de compartilhar com os leitores da LuSofia diversos trechos desta conversa comentados e introduzidos para melhor acompanhar o material em vídeo, sendo assim, a voz de MiaCouto será a protagonista desta pequena viagem que propomos fazer...
Minha pátria é minha infância... o surgimento do escritor
Com um olhar atento e uma voz clara e com uma saudade que constrói o seu futuro,Mia Couto nos acompanha e nos faz mergulhar na sua infância. A infância de um menino filho de imigrantes sempre ao amparo dos pais e que era introduzido no mundo das histórias, aquelas histórias que todos os imigrantes produzem e compartilham. Neste percurso, Mia lembra com imensa gratidão o facto de as histórias permitirem-lhe ter exclusividade, um momento de intimidade tendo os pais na cabeceira da cama a contar histórias.
Os jogos do menino Mia, inventar histórias, descobrir personagens nas pessoas que passavam a sua frente são os primeiros passos que percorrerá para se transformar no prolífico escritor que o mundo conhece, não sem antes ser descoberto por seus pais.
A vocação, a mudança para a capital e a FRELIMO
O já adolescente Mia sai do seu povo para ir morar em Maputo. O intuito era estudar medicina, nesse contexto universitário descobre a participação política e com ela numerosos escritores. É aqui que começa seu trabalho de jornalista a raiz da necessidade de um país sem quadros formados.Mia começa a dirigir o jornal governamental de Moçambique.
É na evolução do seu papel de jornalista que começa a se diferenciar da FRELIMO, os desvios nas políticas do movimento afastam o Mia desse circuito. Foi nesse momento que concretizou a sua paixão pela biologia e foi estudar na Universidade. Mia Couto é biólogo, profissão que exerce hoje em dia.
O biólogo
Formado em ecologia, Mia reconhece a biologia como uma das suas paixões, que convive com a de escritor.
Seu trajeto como biólogo muniu o Mia da capacidade de compreender as diversas linguagens que possuem os seres vivos que conformam a natureza e a curar a arrogância que todos os seres humanos temos de maneira a nos sentir superiores no contexto de uma coisa que é muito maior.
Língua, cultura e religiosidade
O escritor vai apresentar uma breve resenha geopolítica de Moçambique fazendo especial finca pé na variedade linguística, étnica e cultural que vai coexistir.
No conceito do prestigiado visitante, o português será uma ferramenta de unidade na diversidade.
O biólogo e o escritor. Narrando uma história
Mia vai nos apresentar neste pequeno trecho uma breve narrativa de biólogo a partir de uma situação real e que na sua voz acaba por se transformar numa narrativa ficcionada.
Um homem morto... um leão... uma visão diferente: cultura e entidade.
O escritor narra, o biólogo racionaliza e explica.
A palavra: a construção do neologismo
Usar a língua, construir sentidos. As palavras devem ser bonitas além de funcionais, inventar é, de certa forma, dar utilidade à língua. O erro não é erro, é um processo criativo que visa pensar na funcionalidade e na beleza.
A palavra criada pode ser dada de presente para ocupar um espaço até então vago. Como postulava Bakhtin “a palavra é uma ponte entre mim e os outros.”
O amigo Craveirinha
A lembrança do amigo e a anedota carinhosa de quem e com quem, além de compartilhar um sentimento de amizade, compartilha a descoberta de saber que o país necessita de pessoas.
Foi Craveirinha um nacionalista, um combatente que pagou com a cadeia sua decisão de ensinar que havia uma nação à espera deles.
Mia Couto: escritor, biólogo, moçambicano. Nesta conversa deu-nos a possibilidade de mergulhar na história do seu país e na sua própria história que se entrelaçam.
A conversa continuou... decorreu mansa perante os olhos arregalados e o gesto fascinado daqueles que conhecendo o escritor escutamos e descobrimos o ser humano...
Opmerkingen