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Foto del escritorStephanie Scardino

Da praia à selva: outras experiências em pandemia

Stephanie Scardino, professora de português formada na ENS Lenguas Vivas "Sofía Spangenberg", compartilha neste artigo sua experiência ensinando a língua em um cenário bem particular: na Costa Rica no contexto da emergência sanitária da COVID-19, com estudantes de diferentes partes do mundo.

 

Da praia à selva: outras experiências em pandemia

Stephanie Scardino


Todas as pessoas que estudamos uma carreira nos imaginamos, em maior ou menor medida, exercendo nossas profissões, tendo sucesso e vivendo do que amamos.

Comigo, porém, aconteceu algo inesperado, algo que não teria imaginado aquelas longas noites de estudo prévias a minha formatura, e que tem a ver com uma das minhas experiências vivendo na Costa Rica e que quero compartilhar com vocês neste artigo que estou escrevendo desde San Francisco numa fria e nebulosa noite de outono.


Meu nome é Stephanie Scardino, me formei no Lengüitas no ano 2019 e sou daquelas pessoas que se foram da Argentina, não porque não ame meu país, mas porque desde que tenho memória sempre quis viver a experiência de ser uma viajeira, de morar na praia, trocar de paisagem quando meu coração o pede, e de conhecer pessoas novas ao redor do mundo.


Tudo isso parece maravilhoso, e realmente é, mas a pandemia me encontrou no meio da viagem e, como quase todos os seres do planeta (penso eu). Tive que mudar minhas rotinas, perspectivas e estilo de vida. Com praias fechadas, sem turismo nem trabalho, fomos obrigados a deixar a casa onde vivíamos frente ao mar e migrar para a selva, aceitando o convite de uma conhecida que recebia estrangeiros em sua casa de graça, pelo simples fato de ela também ser viageira.


Uma das primeiras noites, pensei que seria interessante juntar a família da anfitrioa e dar aulas de português para todos eles em forma de intercâmbio e reconhecimento pela grande ação de ter nos ajudado com a hospedagem. Foi então como, três vezes por semana, começou a se reunir um grupo de oito alunos -de seis a trinta e cinco anos-, e começamos a trabalhar os conteúdos básicos da língua portuguesa.


Enquanto eles começavam a melhorar, avançar e a se sentir em confiança, eu me sentia numa espécie de laboratório linguístico e cultural, já que sempre no final das aulas acabava fazendo uma reflexão da riqueza que significava dar aula de língua estrangeira a alunos hispano falantes fora da Argentina.


Contrastividades linguísticas e decisões pedagógicas

Por exemplo, descobri que os costa-ricenses têm muita mais facilidade em adquirir uma boa fonética desde o princípio das aulas, e que qualquer conteúdo cultural do Brasil deve ser ensinado com mais dedicação, pois os argentinos somos irmãos vizinhos e comumente temos uma ideia mais aproximada da cultura brasileira. Porém, para os centro americanos, (e mais precisamente para as pessoas que vivem fora das cidades turísticas), é mais complexo poder visualizar e entender a cultura de um país muito mais afastado geograficamente.

Por isso, eu utilizava muitas imagens, vídeos, músicas e material autêntico e atualizado. Não foram poucas as vezes que paramos uma aula para procurar na internet fotos de alguma praia que mencionava o material, ou mapas para entender as dimensões das cidades ou vídeos no Youtube para ouvir as diferentes variações regionais do português brasileiro.


Outra questão interessante das aulas era quando ensinava uma palavra nova e escrevíamos no quadro o equivalente em espanhol costa-ricense e em espanhol rio-platense, mostrando a amplitude das línguas e as diversas variações que pode ter uma palavra dentro do mesmo idioma.


Por exemplo, escrevíamos “CARA”, “CHABON”, “MAE”, “MOLEQUE”, “PIBE”, “CARAJILLO”, “GAROTA”, “MINA”, “GUILA”, e brincávamos buscando a equivalência mais adequada ou a tradução mais fiel da palavra.


Nossos encontros se deram ao longo de três meses. Foram três meses de trabalho, compromisso, aprendizagens e desafios. Foram três meses de adaptar os conteúdos e de buscar os interesses em comum de pessoas que se criaram em um ambiente diferente ao meu, diferente ao teu, diferente ao nosso.


Eles vivem outro cotidiano, e os professores que queremos marcar a diferença, temos que ter a sensibilidade e o profissionalismo para poder descobrir quais são os temas que eles sentem significativos, interessantes, úteis, e para poder deixar a semente da curiosidade, para que estes alunos nunca esqueçam que existe uma língua latina, sonora, rítmica, doce, que se chama português. Também, para que não esqueçam que existiu um momento da história, no ano 2020, em que uma professora argentina trocou aulas de português por hospedagem no meio de uma pandemia com todo o seu amor (o amor genuíno de uma viageira pelo mundo).


Depois dessa experiência, fiquei feliz em saber que ser professora pode abrir muitas mais portas das que eu imaginava quando comecei a estudar. Permite ter uma ferramenta mais para poder viajar pelo mundo, para compartilhar conhecimentos e para ter a tranquilidade que se pode trabalhar e viver do que amamos, seja onde for.

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