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Feminismo e antirracismo, duas lutas conjuntas

Este artigo apresenta uma série de propostas para o trabalho em sala de aula com o objetivo de promover a reflexão sobre o feminismo e anti-racismo no Brasil. A autora, Mariana Cuello, é aluna do Curso Superior de Formação de Professores de Português da ENS en Lenguas Vivas “Sofía E. Broquen de Spangenberg”.

 

Feminismo e antirracismo: duas lutas conjuntas

Mariana Cuello

O feminismo antirracista é a união de duas lutas que já não podem pensar-se separadamente. O gênero e a “raça” influem nos privilégios que uma pessoa vai ter e/ou nas opressões que vai sofrer ao longo de sua vida. Nesse sentido, podemos pensar a sociedade como uma pirâmide na qual uma pequena minoria encontra-se no topo, constituindo a pequena elite com muitos privilégios, e a grande maioria de pessoas constitui a base dessa pirâmide sofrendo opressão. Dessa maneira, são os homens brancos os mais privilegiados por este sistema e as mulheres negras as mais oprimidas.


Cabe destacar que, dentro das opressões baseadas no gênero, a análise poderia ser aprofundada se considerarmos a transexualidade, as orientações sexuais, etc. Assim, por exemplo, uma mulher cisgênero sofreria menos opressão que uma mulher transgênero. Ou seja, a questão do gênero poderia ser analisada para além da binariedade homem/mulher cisgênero heterosexuais tendo muitos outros fatores que influem.


Por outro lado, poderíamos pensar, também, em fatores sociais, econômicos, culturais, etc. que agem igualmente dentro deste sistema de opressões. Contudo, neste trabalho vamos nos focar nas influências do gênero e da “raça” dentro das relações sociais.


Outro esclarecimento importante a fazer é que falamos em “raças” porque essa foi a classificação e o termo utilizado durante séculos para discriminar e oprimir as pessoas. Portanto, utilizamos o termo no sentido de “raça social”.


Como explica Munanga (2004)

“A classificação da humanidade em raças hierarquizadas desembocou numa teoria pseudo-científica, a raciologia, que ganhou muito espaço no início do século XX. Na realidade, apesar da máscara científica, a raciologia tinha um conteúdo mais doutrinário do que científico, pois seu discurso serviu mais para justificar e legitimar os sistemas de dominação racial do que como explicação da variabilidade humana.” (p. 5)

E acrescenta:

“Podemos observar que o conceito de raça tal como o empregamos hoje, nada tem de biológico. É um conceito carregado de ideologia, pois como todas as ideologias, ele esconde uma coisa não proclamada: a relação de poder e de dominação.“ (p. 6)

Portanto, não existem raças biológicas entre as pessoas. Esse conceito foi criado para hierarquizar e impor a superioridade branca. Todavia, o movimento antirracista fala em raças, já que sua opressão foi baseada nesse conceito, embora hoje saibamos que as pessoas não podem ser classificadas em raças.


Quanto a diferença entre raça e etnia, Kabengele Munanga explica que

“O conteúdo da raça é morfo-biológico e o da etnia é sócio-cultural, histórico e psicológico. Um conjunto populacional dito raça “branca”, “negra” e “amarela”, pode conter em seu seio diversas etnias. Uma etnia é um conjunto de indivíduos que, histórica ou mitologicamente, têm um ancestral comum; têm uma língua em comum, uma mesma religião ou cosmovisão; uma mesma cultura e moram geograficamente num mesmo território. Algumas etnias constituíram sozinhas nações. Assim o caso de várias sociedades indígenas brasileiras, africanas, asiáticas, australianas, etc.. que são ou foram etnias nações.”

Assim, como já vimos o conceito de raça pretende basear-se na questão biológica, embora hoje sabemos que não tem nenhum sustento e que seu objetivo foi só doutrinário. E, a etnia, tem a ver com questões culturais, religiosas e ancestrais.


Dentro do movimento feminista existem duas vertentes que consideram às opressões raciais: o feminismo negro e o feminismo antirracista.

Como explica Beth Ferreira (2019):

“Houve ainda o entendimento comum de que uma diferença elementar entre feminismo negro e feminismo antirracista é o “sujeito”. No feminismo negro, o sujeito político é constituído pelas mulheres negras; no feminismo antirracista, tanto podem ser mulheres negras como não negras. No caso, no feminismo antirracista, embora seja feito também por mulheres não negras, rejeita-se a suposta igualdade entre nós, mulheres, valorizando e reconhecendo a experiência própria de ser negra como elemento essencial tanto para a organização das mulheres negras, como também para o pensamento e a ação feminista de enfrentamento ao racismo“. (p. 9)

Assim, ambas vertentes feministas consideram a questão racial, mas a única diferença entre elas é o sujeito de cada um desses movimentos.


Nessa mesma lógica, existe dentro do feminismo uma corrente interseccional, isto é, uma perspectiva que considera as especificidades da situação de cada pessoa que sofre opressão por gênero. Djamila Ribeiro (2014) explica:

“O movimento feminista precisa ser interseccional, dar voz e representação às especificidades existentes nesse ser mulher. Se o objetivo é a luta por uma sociedade sem hierarquia de gênero, existindo mulheres que, para além da opressão de gênero, sofrem outras opressões como racismo, lesbofobia, transmisoginia, urgente incluir e pensar as intersecções como prioridade de ação e não mais como assuntos secundários.”

Em síntese, é importante considerar as opressões baseadas no gênero sem desconsiderar as opressões de diferentes naturezas que atravessam a existência de cada pessoa, daí a importância do feminismo antirracista interseccional. Esse tipo de olhar considera as diferentes exclusões que sofre a pessoa, atende as particularidades desse sujeito em questão.


Quanto à educação, a lei de ESI (Lei N° 26.150, 2006) estabelece que

“Todos los educandos tienen derecho a recibir educación sexual integral en los establecimientos educativos públicos, de gestión estatal y privada de las jurisdicciones nacional, provincial, de la Ciudad Autónoma de Buenos Aires y municipal.”

Ou seja que seu objetivo é que todes ês educandes tenham direito a receber Educação Sexual Integral (ESI) em todos os estabelecimentos educativos públicos, de gestão estatal e privada, das jurisdições nacional, provincial, da Cidade Autônoma de Buenos Aires e municipal. As diretrizes curriculares da lei, na área de Língua do Ensino Médio, estabelecem que “El lenguaje es esencial en la conformación de una comunidad. La cultura lingüística contribuye a estructurar la sociedad, acompaña su historia y forma parte de su identidad.” isto é, que a linguagem é essencial na conformação de uma comunidade, que a cultura linguística contribui para estruturar a sociedade, acompanha sua história e forma parte de sua identidade.


Considerando as desigualdades sociais antes nomeadas, a importância da contribuição do uso da língua para a construção de sentidos e, claro, o cumprimento da lei já mencionada é importante como docentes de língua trabalhar essas temáticas na sala de aula.


Neste trabalho é utilizado o Sistema Elu, uma linguagem neutra em gênero, já que considera-se o uso genérico do masculino machista e não neutro. O “masculino genérico” coloca ao homem como a norma e o padrão invisibilizando ao gênero feminino e, bem sabemos, que a linguagem não e inocente e a partir dela podemos escolher o que nomear e o que ocultar. Além disso, a linguagem inclusiva abrange também às pessoas não binárias.

 

Sequência didática

  • Objetivo: refletir sobre o feminismo antirracista no Brasil através do trabalho do gênero textual biografia.

  • Nível: Ensino Médio

Aula 1:

Atividade 1

Comentar que o tema a ser trabalhado será o feminismo antirracista no Brasil.

Fazer um levantamento dos conhecimentos da turma sobre o tema por meio de um “Círculo de Cultura”. O “Círculo de Cultura” é um método criado por Paulo Freire com o qual, através do diálogo, vai se construindo o conhecimento.


Atividade 2:

Esclarecer qual é o produto final esperado e fixar claramente os objetivos: Em grupos de 3 alunes escreverão a biografia de uma pessoa que tenha contribuído para o feminismo antirracista no Brasil. Uma vez feita e aprovada a biografia farão uma apresentação oral compartilhando o trabalho feito com o resto da turma. Nessa apresentação deverão utilizar uma ferramenta digital


Atividade 3:

Ler a notícia: “Por que mulheres negras são pouco valorizadas no mercado de trabalho?[2]“ de Amauri Eugênio Jr. e “Mulher negra graduada no Brasil recebe 43% do salário de homem branco[3]” de Luiza Belloni.

Depois da leitura vamos debater sobre essas questões.


Aula 2;

Atividade 1: Estimular o debate, apresentar o seguinte vídeo como disparador: “Eu Empregada Doméstica | Preta Rara | TEDxSaoPaulo[4]


Depois, mostrar a seguinte imagem:



Atividade 2: Fazer a leitura compartilhada do artigo: “Entre o machismo e o racismo[5]” de Ariane Silva, Flávia Martinelli e Monise Cardoso, do Mulherias no Azmina e após a leitura fazer um trabalho de pós-leitura com debate grupal.


Atividade 3: Pedir que façam pesquisas sobre o tema. Disponibilizar alguns links úteis como:

- Pesquisa Mulheres Negras e Violência Doméstica: decodificando os números – e-Book: https://www.geledes.org.br/pesquisa-mulheres-negras-e-violencia-domestica-decodificando-os-numeros-e-book/

- AMB - Articulação de Mulheres Brasileiras: https://www.facebook.com/amb.feminista/

- Coalizão Negra por Direitos: https://www.facebook.com/coalizaonegra/

- Feminismo Negro en PDF [FemEP]:

- Feminismo Negro : Mulherismo:

- Taxa de Homicídios Mulheres Negras:

- Homicídios Mulheres Negras:

Aula 3:

Atividade 1: Compartilhar oralmente as pesquisas feitas, as ideias, conclusões, opiniões, etc.


Atividade 2: Pedir para procurar e definir a personagem sobre quem vão fazer o trabalho da biografia.


Algumas indicações de pessoas para o trabalho:

- Djamila Ribeiro (Djamila Taís Ribeiro dos Santos é filósofa, feminista negra, escritora, acadêmica brasileira: pesquisadora e mestra em Filosofia Política)

- Sueli Carneiro (Aparecida Sueli Carneiro Jacoel é filósofa, escritora e ativista antirracismo do movimento social negro brasileiro e fundadora e atual diretora do Geledés — Instituto da Mulher Negra)

- Marielle Franco (Marielle Francisco da Silva era socióloga e política. Foi vereadora eleita em 2017 pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Foi reconhecida internacionalmente pela formulações de projetos de leis e pautas em defesa dos direitos da população LGBTI e das mulheres pretas e faveladas.)

- Luíza Bairros (Luiza Helena de Bairros foi administradora brasileira, mestre em ciências sociais e doutora em sociologia, foi ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Brasil entre 2011 e 2014.)

- Letícia Parks (É professora, faz parte de “Esquerda Diário” e do MRT -Movimento Revolucionário de Trabalhadores-, é fundadora do grupo de negras e negros anticapitalistas Quilombo Vermelho e membra de candidatura coletiva da Bancada Revolucionária de Trabalhadores -vereador SP-).

- Núbia Regina Moreira (professora de sociologia, escritora, pesquisadora e mestre em Sociologia Política).

- Laudelina de Campos Melo (defensora dos direitos das mulheres e das empregadas domésticas, fundadora do primeiro sindicato de trabalhadoras domésticas do Brasil).

- Maria Firmina dos Reis (escritora, considerada a primeira romancista negra brasileira).

- Antonieta de Barros (jornalista, professora e política brasileira. Foi a primeira negra brasileira a assumir um mandato popular, tendo sido pioneira e inspiração para o movimento negro, apesar de um grande apagamento de sua história, que vem sendo retomada aos poucos).

- Marina Silva (Maria Osmarina da Silva Vaz de Lima é uma historiadora, professora, psicopedagoga, ambientalista e política brasileira filiada à Rede Sustentabilidade).

- Benedita da Silva (Benedita Sousa da Silva Sampaio é uma servidora pública, professora, auxiliar de enfermagem, assistente social e políticabrasileira. Primeira senadora negra do Brasil, ativista política do Movimento Negro e feminista).


Aula 4:


Atividade 1. Acompanhar a ês estudantes nas suas pesquisas e na escrita da biografia.


Atividade 2: Sugerir ferramentas digitais para a criação da apresentação:

- Apresentações Google


Aula 5:


Atividade 1: Ês alunes apresentam as biografias.



Apresentação:







Bibliografia:


- Ferreira, B. (2019). Feminismo negro e feminismo antirracista. Brasília CFEMEA. Recuperado de: https://www.cfemea.org.br/images/stories/publicacoes/feminismo_negro_feminismo_antirracista.pdf

- Ley 26.150: Programa Nacional de Educación Sexual Integral. 4 de octubre de 2006.

- Lineamientos Curriculares para la Educación Sexual Integral. Programa Nacional de Educación Sexual Integral. Ley Nacional Nº 26.150. Recuperado de: https://www.argentina.gob.ar/sites/default/files/lineamientos_0.pdf

- Munanga, K. (2004). “”Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia.” Em Brandão, André Augusto P. (Org.), Cadernos Penesb 5. Niterói: EdUFF. Recuperado de: https://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2014/04/Uma-abordagem-conceitual-das-nocoes-de-raca-racismo-dentidade-e-etnia.pdf

- Munanga, K. “Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia.” Inclusão social, Um debate necessário? . Recuperado de: https://www.ufmg.br/inclusaosocial/?p=59

- Ribeiro, D. (2014) “Por um feminismo interseccional” Recuperado de: https://filopol.milharal.org/2014/02/12/por-um-feminismo-interseccional/






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