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Propostas do Programa Leitorados Guimarães Rosa para a promoção da interculturalidade crítica no ensino de português como língua adicional/estrangeira

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    Camila de Souza Santos
  • hace 4 días
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A leitora Camila Sousa Santos resume as valiosas experiências do Programa Leitorado Lengüitas em 2025. O ano foi marcado pela oferta da disciplina “Tópicos Especiais em Culturas Brasileiras” e pelo ciclo “Minas Gerais: outras veredas nas terras de Guimarães Rosa”, que ampliaram o foco na diversidade cultural brasileira. Outra oferta foi o Ciclo (Re)Imaginar futuros a partir da Amazônia. Todas as propostas foram realizadas em parceria com outras instituições destacadas.

Propostas do Programa Leitorados Guimarães Rosa para a promoção da interculturalidade crítica no ensino de português como língua adicional/estrangeira


Por Leitora Camila de Souza Santos*

Leitora Guimarães Rosa na Escuela Normal Superior em

Lenguas Vivas Sofía E. B. de Spangenberg



Em 2025, o Programa Leitorados no Lengüitas implementou iniciativas direcionadas ao aprofundamento do conhecimento sobre as diversas manifestações culturais brasileiras, enfatizando perspectivas do Brasil profundo. A proposta visa reconhecer e valorizar a multiplicidade de vozes que compõem a diversidade nacional, especialmente aquelas que tradicionalmente não ocupam espaços de destaque ou influência. Adicionalmente, o programa ofereceu subsídios essenciais para a compreensão da obra de João Guimarães Rosa, considerado patrono da diplomacia cultural brasileira, por meio das ações conduzidas pelo Instituto Guimarães Rosa (IGR).


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No sentido de trabalhar a variante brasileira da língua portuguesa e, como componente indissociável, a cultura do Brasil, a partir de diferentes modalidades artísticas: teatro, cinema, literatura, danças, cantos e o patrimônio material, com vistas a promover o diálogo entre arte e educação na formação de professores de Português como Língua Adicional/Estrangeira, a disciplina “Tópicos Especiais em Culturas Brasileiras:o Brasil em diversas artes”  apresentou o seguinte cronograma de aulas abertas:


18/03/2025 – Aula especial de lançamento da disciplina com aula “O império dos diminutivos: a escola de samba de Tiãozinho, Andrezinho e Paulinho”, ministrada pelo professor Phellipe Patrizi


08/04/2025 – Aula aberta “Os modos de fazer o queijo minas artesanal: Da Fazenda a Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade”, com a professora Renata Garbocci


15/04/2025 – Aula aberta “a Patrimonialização de saberes populares de identidades culturais maranhenses: O Tambor de Crioula e a Tiquira”, com o professor Neto de Azile


17/06/2025 – Aula aberta “O cinema brasileiro em cinco atos”, com o diretor Daniel Moreno


03/06/2025 – Aula aberta “Vozes subseversivas: os palhaços cantores e as teatralidades do Brasil”, com a atriz Caísa Tibúrcio


01/07/2025 – Aula aberta “Vistas um Brasil no Terreiro Xambá”, com Paulinho Filizola



É importante destacar que essa disciplina foi pensada com a progressão em módulos, sendo o 1º intitulado “A cultura e sua institucionalização no povo”, que foi do dia 25/03/2025 ao dia 25/04/2025, e o “rilhas, entremeios, encruzilhadas na expressão cultural do Brasil em diversas artes”, do dia 22/04/2025 ao dia 08/07/2025. Assim sendo, os professores interessados poderiam optar por fazer a inscrição completa ou apenas em um dos módulos, desde que cumprissem, pelo menos um dos fóruns de fechamento da etapa e apresentasse uma plano de aula aplicando algum conteúdo aprendido.


Sobre os conteúdos, convém demonstrar que cada aula especial era a conclusão de uma discussão prevalecente nas aulas, assim, ainda que fossem espaços abertos ao público geral, as discussões mais detalhadas eram realizadas ao longo do percurso da disciplina. Nesse sentido, a elaboração e oferta do tópico teve como foco, destacar os componentes da diversidade cultural brasileira pouco divulgados ou pouco conhecidos pelo público de professores argentinos.


Na primeira aula aberta, no dia 18/03/25, o propósito foi apresentar o trabalho coletivo das comunidades do Rio de Janeiro na organização do Carnaval, destacando os bastidores da preparação para o evento antes de sua realização nos sambódromos, com ênfase no envolvimento da comunidade do Morro da Formiga por meio do Grêmio Recreativo Império da Tijuca. A exposição abordou as tradições comunitárias relacionadas à estruturação da escola de samba, o processo de escolha das composições, a gestão cultural e financeira, além da interação social e mobilização dos moradores em torno das atividades propostas, incluindo o respeito às tradições afro-brasileiras e os projetos educativos vinculados à instituição. O relato apresentado pelo professor Phellipe Patrizi ilustrou o conceito de Paulo Freire, segundo o qual "Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção." (Freire, 1996, p.25).


No segundo encontro, realizado em 08/04/2025, com o tema “Os modos de fazer o queijo minas artesanal: da Fazenda a Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade”, os docentes tiveram a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos sobre as práticas tradicionais dos pequenos produtores na preservação do queijo mineiro. O evento abordou também os esforços conduzidos pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) visando ao reconhecimento pela UNESCO. Além disso, houve espaço para uma análise crítica do valor cultural atribuído por organismos internacionais, considerando que tal reconhecimento já está presente nas comunidades locais que vivenciam e disseminam essas tradições. Assim, foi possível discutir as motivações dos títulos internacionais relacionados à “cultura”, observando que, embora o reconhecimento externo seja relevante, é fundamental refletir sobre potenciais perspectivas colonizadoras presentes ao atribuir valor às manifestações culturais. Sob essa ótica, realizamos o terceiro encontro denominado "A Patrimonialização de Saberes Populares de Identidades Culturais Maranhenses: O Tambor de Crioula e a Tiquira", ocorrido em 15/04/2025. Com a intenção de evidenciar como a cultura se institucionaliza a partir do povo, debatemos sobre o papel das comunidades tradicionais na definição das diretrizes para a patrimonialização e na condução da salvaguarda do tambor de crioula e da tiquira.


A contribuição das artes visuais como estímulo à apreciação estética, ao pensamento crítico e como meios para a transformação social foi um dos pontos centrais abordados nas discussões culturais da disciplina. Tal temática esteve presente no encontro realizado em 03/06/2025, intitulado “O cinema brasileiro em cinco atos”, que contou com a participação do diretor Daniel Moreno. Nesse contexto, os professores em formação tiveram a oportunidade de analisar aspectos da iconografia do cinema brasileiro, incluindo seus desafios, contradições e potencialidades. De maneira semelhante, o encontro ocorrido em 17/06/2025, sob o título “Vozes subversivas: os palhaços cantores e as teatralidades do Brasil”, com presença da atriz Caísa Tibúrcio, permitiu aos docentes explorar a diversidade e a resistência presentes nas culturas brasileiras, por meio de práticas híbridas que integram música e comicidade a processos criativos voltados à expressão de memórias coletivas, evidenciando um fazer teatral que articula corpo, escuta e matrizes culturais nacionais. Os encontros reforçaram os princípios destacados por Cunha e Barbosa (2010), na Abordagem Triangular das artes e culturas visuais, contemplando o fazer artístico, a apreciação estética e a contextualização histórica para promover uma aprendizagem significativa.


Por fim, esta oferta incluiu a aula “Vistas um Brasil no Terreiro Xambá”, realizada em 01/07/2025 com a presença de Paulinho Filizola. Durante esse momento, discutimos como as matrizes africanas se manifestam na cultura brasileira por meio de ritos religiosos. No encontro, os professores em formação tiveram a oportunidade de refletir sobre o respeito à diversidade religiosa (Brasil, 2007) (1) presente no mosaico cultural do país e sobre a importância de enfrentar o racismo no processo educacional (Lino, 2015)


Adicionalmente, o Programa Leitorados contemplou a oferta do ciclo de palestras “Minas Gerais: outras veredas nas terras de Guimarães Rosa”, direcionado tanto aos professores do Lengüitas quanto ao público externo. Durante a implementação do Programa na instituição, observei que o nome “Guimarães Rosa” era frequentemente associado pelos alunos à percepção de um escritor de leitura complexa e difícil compreensão. Com o intuito de facilitar o acesso à sua obra literária, propus uma oferta que visava contextualizar sua produção, a partir de uma trajetória pelo estado de Minas Gerais. Tal abordagem incluiu a análise das condições de produção das obras, o estudo das culturas do sertão mineiro e uma reflexão sobre a dinâmica urbana das esquinas de Belo Horizonte.


A comissão organizadora, atenta à complexidade e à riqueza da produção de João Guimarães Rosa, delineou um ciclo de palestras com caráter interdisciplinar, buscando proporcionar ao público uma compreensão ampliada sobre a obra do autor e a referência à sua terra, Minas Gerais. Para atingir esse objetivo, a programação foi cuidadosamente estruturada em etapas que acompanham o percurso criativo de Guimarães Rosa, partindo da palestra de abertura intitulada “Guimarães Rosa: do desejo de escrever à escritura”. Essa apresentação serviu como ponto de partida para reflexões sobre o processo de escrita do autor. A sequência do ciclo foi coerente a esse objetivo, envolvendo temáticas como história, ecologia, antropologia, educação em espaços não formais (a exemplo de museus) e o cinema. Dessa forma, a programação buscou estabelecer o diálogo entre as diferentes dimensões culturais e sociais presentes nas obras de Guimarães Rosa, reforçando o caráter multifacetado de sua produção.


Importa ressaltar que, embora determinados temas estejam presentes na obra roseana, nem todas as palestras abordaram diretamente sua produção literária. Exemplos disso foram as palestras “Descobrindo Minas de Causos” e “Áfricas em Minas”, mantidas na programação por decisão da Comissão Organizadora. A justificativa para essa escolha foi o entendimento de que os encontros com essas temas, embora não incidissem diretamente sobre a obra de Rosa, permeiam e dialogam com seu universo, enriquecendo a abordagem interdisciplinar proposta pelo ciclo.  A palestra “Descobrindo Minas de Causos”, realizada no dia 11 de junho, por exemplo, pode nos remeter à cultura oral fortemente presente nas obras de Guimarães Rosa, funcionando como a principal matéria-prima de sua produção literária e nos aproximando das experiências, crenças e costumes dos habitantes do sertão. O próprio autor, ao se colocar na posição de narrador, cria a sensação de que estamos ouvindo histórias diretamente dele. Destaco exemplos em que me senti especialmente próxima desse modo de contar histórias: os contos “Conversa de bois”, “Minha gente” e “São Marcos”, presentes em Sagarana, além das narrativas de coragem e dos temores relatados pela comitiva de jagunços em *Grande Sertão: Veredas.  A palestra Áfricas em Minas: memória, patrimônio, arte e educação, reforçou com o público a presença das culturas africanas em Minas Gerais, um estado onde a culturas de bantu se expressam no congado (Santos, 2016) no caxambu (Mattos; Abreu, 2009)


A programação interdisciplinar do ciclo se deu em 13 encontros, que aconteceram entre o dia 26 de março e 14 de julho de 2025, no turno vespertino, no contexto argentino, às 18h30 de Brasília, em dois blocos, o primeiro intitulado “Veredas entre a história e ficção nos geraes de Guimarães Rosa” (de 26/03 a 07/05) e o segundo “Novas a veredas revelam Minas Gerais” (15/05/25), respeitando a seguinte ordem:


  • Bloco 1 “Veredas entre a história e ficção nos geraes de Guimarães Rosa”

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26/03/25 - Palestra de abertura do ciclo - Do desejo de escrever à escritura - o percurso de Guimarães Rosa


31/03/25 - Pelas margens do São Francisco: a trajetória histórica e ficcional de Antônio Dó


10/04/25 - A recriação da natureza em Guimarães Rosa


16/04/25 - Comunidades veredeiras - entre travessias e pertencimentos


24/04/25 - “A Casa do menino João”


30/04/25 - Oficina de Leitura Guimarães Rosa com o Instituto e Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo -  IEB/USP


07/05/25 - “Tecer histórias entre as linhas do sertão: bodescrever narrativas e brilhar em terras roseanas” - Bordadeiras da Associação dos Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa - Grupo Estrelas do Sertão


  • Bloco 2 “Novas a veredas revelam Minas Gerais”


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15/05/25 - As narrativas viajantes do Clube da Esquina


11/06/25 - Descobrindo Minas de “causos”: narrativas orais e culturas do escrito em Belo Horizonte


27/06/25 - “A tradução de Grande Sertão: Veredas ao espanhol” – homenagem ao aniversário de Guimarães Rosa


07/07/25 - Áfricas em Minas: memória, patrimônio, arte e educação


08/07/25 - A Imagem em Guimarães Rosa (cinema)


14/07/25 - Guimarães Rosa, “Uns Indios” e  a Iaiá Caboca


14/07/25 – live musical as veredas 


O repertório da programação contou com a colaboração de especialistas que, em sua maioria, desenvolveram trabalhos em diálogo com a obra de João Guimarães Rosa, destacando-se uma pesquisadora da área da Ecologia, que analisou as espécies animais vegetais do cerrado nas anotações da viagem de 1952, realizada por Rosa ao sertão mineiro; um antropólogo responsável por um estudo etnográfico com as comunidades do sertão mineiro; historiadores: uma estudou a ocupação do território mineiro pelas margens do Rio São Francisco (rio de Grande Sertão), outra que pesquisou “causos” em Belo Horizonte, outro  que  pesquisa músicas do projeto Clube da Esquina, buscando referência na viagem de Rosa ao sertão mineiro e  outra que pesquisou a herança africana em Minas Gerais, tendo como referência a travessia de escravizados entre Bahia e Rio de Janeiro; uma cineasta que produziu um longa-metragem baseado em Grande Sertão: Veredas; a Equipe do Museu Casa Guimarães Rosa e seus parceiros no Grupo “Estrelas do Sertão” e um grupo musical que apresentou repertório baseado em Grande Sertão: Veredas. Todos muito generosos se engajaram na proposta em troca de certificados e se envolveram de forma muito engajada com o compromisso valioso de aproximar o público das referências presentes na obra de João Guimarães Rosa.


Finalmente, convém ressaltar o alto nível de relevância do projeto para a divulgação da cultura brasileira, por meio da literatura, e das pesquisas realizadas em torno a aspectos sociais, históricos e artísticos da obra de João Guimarães Rosa, patrono da principal instância da diplomacia cultural brasileira. Conforme destacado por Tavares (2025), a cultura é uma ferramenta potente de influência de um Estado no mundo e a obra de um autor que chamou a atenção do mundo para o Brasil por meio de uma linguagem reveladora das profundezas desse país, problematizadora da questões humanas, desafiando o leitor a aventurar-se pela incômoda travessia de seus próprias questões (Machado, 2011) e valendo-se do aspecto hostil e selvagem da linguagem para fazê-lo, é digno de um evento completo como o que foi realizado.


A 30ª Conferência do Clima, realizada no Brasil, em Belém do Pará, de 10 a 21 de novembro de 2025, serviu de impulso para a organização de um novo ciclo de conferências. Essa iniciativa resultou de uma colaboração entre os Leitorados Guimarães Rosa presentes no Lengüitas, na Universidad de Chile e na Universidad Andina Simón Bolívar (UASB), sede Equador, contando com o apoio do Departamento de Português, do Spangenberg e da Cátedra Brasil - Comunidad Andina.

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Os organizadores da proposta reconheceram a importância de (re)imaginar futuros possíveis para os desafios socioambientais atuais em escala global, a partir da perspectiva amazônica, levando em conta diferentes produções científicas, saberes tradicionais e manifestações culturais dos povos que habitam, estudam e refletem sobre a região. Ao incorporar esse objetivo na formação de professores e aprendizes de português, reafirma-se o compromisso do Programa Leitorados com uma formação intercultural crítica, configurando-se como um processo e projeto social, político, ético e intelectual que adota a decolonialidade como estratégia, ação e meta (Walsh, 2001).


Para promover uma educação de caráter transformador, é fundamental que suas demandas sejam atendidas mediante recursos adequados. Valorizar o diálogo entre professores em formação e grupos historicamente excluídos dos processos decisórios é essencial para incorporar perspectivas diversas, considerando a importância dessas contribuições na construção de alternativas e no fortalecimento de práticas sustentáveis e emancipadoras. Tais ações podem contribuir para superar padrões predatórios e excludentes que têm impactado negativamente o planeta.


Em função disso, o ciclo “(Re)Imaginar futuros a partir da Amazônia” foi organizado nos seguintes eixos: 1. (Re)Imaginar mundos através das literaturas amazónicas; 2. Memórias, imaginação e cinema: documentarismo e ficção em territórios amazônicos; 3. Saberes tradicionais, projetos de cooperativismo, bioeconomia, comércio justo e turismo sustentável; 4. Tradições orais, memória e processos comunitários; 5. Ecologia e diálogo de saberes. A programação foi distribuída entre agosto e novembro de 2025, neste cronograma:


  1. (Re)Imaginar mundos através das literaturas amazónicas com encontros em 28/08/25, 10/09/2025 e 15/09/2025;


  2.  Memórias, imaginação e cinema: documentarismo e ficção em territórios amazónicos com encontros em 18/09/2025 e 26/09/2025;


  3. Saberes tradicionais, projetos de cooperativismo, bioeconomia, comércio justo e turismo sustentável com encontros em 06/10/2025 e 22/10/2025;


  4. Tradições orais, memória e processos comunitários, com encontro no dia 30/10/2025;


  5. Ecologia e diálogo de saberes com encontro no dia 04/11/2025.


As contribuições de lideranças indígenas, pesquisadores em literatura, antropologia, educação intercultural quilombola, promotores do plurilinguismo e das políticas linguísticas indígenas, bem como diretores de cinema e produtores culturais, tanto indígenas quanto não indígenas, enriqueceram significativamente a formação de professores ao propor a (re)imaginação de futuros possíveis fundamentados em caminhos comprometidos com a sustentabilidade planetária.


Essa proposta demonstrou que (re)Imaginar saídas, especialmente para a transição energética, pauta de destaque nas discussões da COP30, requer a participação de todos nós. Ainda que as mesas de negociação e o estabelecimento de metas sejam apresentados por delegações compostas por diplomatas e autoridades governamentais de diferentes países, o caminho é sempre  uma construção coletiva que envolve também cientistas e comunidades que habitam esses biomas e, embora nem todos nós estejamos na Amazônia, no cerrado, na mata atlântica, nos pampas, nos llanos e nas savanas, precisamos estar em conexão com esses e outros espaços, porque são eles que expressam os impactos dos modos de produção que orientam nossas vidas e que mudam cursos das águas, dos ventos e das temperaturas que tanto alteramos.


É possível notar que o eixo central das ações desenvolvidas ao longo de 2025 pelo Programa Leitorados e seus parceiros foi promover espaços de diálogo entre diferentes áreas do conhecimento e múltiplas vozes envolvidas nos debates atuais sobre as diversidades culturais no Brasil. Isso incluiu reflexões sobre a formação da cultura em processos coletivos de expressão, como o carnaval, as resistências nas artes visuais — cinema e teatro —, a pluralidade de crenças, a crítica aos padrões que conferem status às culturas e a compreensão do Brasil por meio das inter-relações entre literatura, antropologia, cinema, ecologia e história. O trabalho também abordou diferentes concepções para (re)imaginar futuros melhores para o planeta.



  1.  A Lei nº 11.635 de 27de dezembro de 2007 discorre sobre o combate à intolerância religiosa no Brasil de forma ampla. Consultas ao teor do texto podem ser feitas através deste link: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11635.htm#:~:text=LEI%20N%C2%BA%2011.635%2C%20DE%2027,Art.> Acesso em 26 de nov. 2025


Bibliografia

BARBOSA, Ana Mae; CUNHA, Fernanda Pereira da (Org). Abordagem Triangular no ensino das Artes e Culturas Visuais. São Paulo: Cortez, 2010.


HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir: a Educação como prática de liberdade. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla- São Paulo. 2013. Editora Martins Fontes, 2013.


LINO, Nilma. “Quanto mais se nega a existência de racismo, mais ele se propaga”. Carta Capital, 2015. Texto disponível em:< https://www.cartacapital.com.br/sociedade/quanto-mais-se-nega-a-existencia-de-racismo-mais-ele-se-propaga-diz-ministra-2416/> acesso em 28 de nov. 2025.


MACHADO, Bruno Focas Vieira. João Guimarães Rosa: a invenção da linguagem. Itinerários, Araraquara, n. 33, p.233-242, jul./dez. 2011


MATTOS, Hebe. ABREU, Martha. Pelos Caminhos do Jongo e do Caxambu: História, Memória e Patrimônio. Niterói: NEAMI (Núcleo de Estudos Afro-Asiáticos), 2009.


SANTOS, Francimário Vito dos. A política de registro das congadas em Minas Gerais: mobilização, diálogos e descontinuidades em Santo Antônio do Monte/MG. Revista CPC, São Paulo, n.22, p.242-266, jul./dez. 2016.


TAVARES, Jorge Luiz Vieira. A Criação Do Instituto Guimarães Rosa: desafios e oportunidades para a difusão da língua portuguesa no exterior. - Brasília: FUNAG, 2025. 359 p. -– (Curso de altos estudos).




*Camila de Souza Santos É doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Atua como coordenadora adjunta no Cursinho Pró-Imigrantes, projeto de extensão vinculado à Faculdade de Letras (FALE/UFMG) voltado à preparação de migrantes de crise ao ensino superior brasileiro. Nesse projeto também desenvolve sua pesquisa de doutorado, investigando as contribuições do Pró-Imigrantes na conformação das identidades docentes em contexto de acolhimento a imigrantes de crise. É Leitora pelo Programa Leitorado Guimarães Rosa do Ministério de Relações Exteriores do Brasil (MRE), colaborando com a difusão da língua portuguesa e das Culturas brasileiras na Escuela Normal Superior en Lenguas Vivas Sofía Esther Broquen de Spangenberg (Lengüitas), em Buenos Aires/Argentina. Tem experiência na ministração de aulas de português como língua adicional no curso preparatório para o Programa Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G/PLE), em disciplinas de Português como Língua Adicional para estudantes de graduação internacionais na UFMG e no Programa Mais Médicos para o Brasil. Colaborou com a aplicadora do Exame Celpe-Bras na FALE/UFMG.


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