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Verónica Álvarez e Laura Vizcaya

O ensino de português língua estrangeira na educação inicial

Verónica Álvarez e María Laura Vizcaya, docente e aluna do Curso Superior de Formação de Professores da “ENS en Lenguas Vivas Sofía Spangenbreg” apresentam este trabalho de análise e reflexão sobre a experiência de ensino de português a crianças de 5 anos. Acompanham o artigo com exemplos dos planos de aula desenvolvidos.

 

O ensino de Portugues língua estrangeira na educação inicial

Por Verónica Alvarez e Laura Vizcaya


Ensinar uma língua estrangeira (LE) a crianças da pré-escola é uma oportunidade de oferecer possibilidades de construir uma segunda língua de maneira flexível na sua aquisição fonética e lexical. Por outro lado, a construção de uma LE com alunos muito novos produz uma aceitação do outro, da sua cultura, das suas formas de expressão e socialização, uma vez que respeitar o semelhante contribui para a aceitação de que no mundo não há só um jeito de agir socialmente tanto de maneira linguística como paralinguística (Revuz Christine, 2003).


A turma de alunos com a que trabalhamos, e que deu base a este artigo, é uma turma de jardim, de crianças de 5 anos, de classe social média, do bairro de Palermo, na Cidade de Buenos. Durante 2 dias ensinamos a LE através de diversas estratégias de ensino, usando como input elementos motivadores para a aprendizagem da língua estrangeira, tal como jogos, brincadeiras, músicas, contos, parlendas, adivinhas, etc.


Nesse período da escolaridade, os alunos começam a mergulhar no mundo da alfabetização. Embora alguns já estejam alfabetizados, nem todas as crianças sabem ler e escrever, de fato a grande maioria só escreve seu nome e algumas palavras avulsas que são significativas e fazem parte do seu contexto. Segundo a alfabetizadora argentina, radicada no México, Emilia Ferreiro, as crianças estão tendo um papel ativo na sua aprendizagem, construindo seu próprio conhecimento. Encontram-se nessa idade, num período silábico (interpreta a letra a sua maneira, atribuindo valor de sílaba a cada uma); ou silábico-alfabética (mistura a lógica da fase anterior com a identificação de algumas sílabas), observando-se assim uma aprendizagem gradual da sua alfabetização.

Então, por que é importante ensinar línguas nessa idade?

Porque a criança aprende línguas sem tomar conhecimento de que está aprendendo a falar uma língua estrangeira, e com uma plasticidade que contribui para facilitar a sua fala. Seu aparelho fonador não é rígido e não há tantas possibilidades de ter bloqueios com o filtro afetivo.

Levando em consideração a hipótese da lateralização do cérebro, segundo a qual a criança está em um processo de desenvolvimentos, há mais flexibilidade no modo em que elas percebem os sons, compreendendo a variedade e internalizando com facilidade, contrário ao que acontece com os adultos onde a partir da puberdade é mais difícil, visto que essa lateralidade já foi desenvolvida (Da Silva Souza Arlei, 2015).


As crianças nessa faixa etária trabalham com material concreto visto que, segundo o epistemólogo Jean Piaget (1896-1980), encontram-se na fase do pensamento pré-operatório (domina a linguagem e a representação do mundo por meio de símbolos e o pensamento egocêntrico continua, porém ainda não é capaz de colocar-se no lugar do outro).

É por isso que para planejar as nossas aulas de ensino de PLE nos apoiamos na sua tese construtivista, que considera os alunos sujeitos ativos da sua própria aprendizagem. Ela é o resultado do próprio comportamento, que gera esquemas de ações através da interação do sujeito com o objeto da aprendizagem, neste caso o idioma, e as atividades que são elaboradas para poder produzir essa aquisição. Para os alunos as habilidades intelectuais humanas são formadas por meio de ação; a interação entre o organismo e o ambiente é o principal impulso para o desenvolvimento do conhecimento.


Quais poderiam ser alguns exemplos de atividades e estratégias para o ensino da língua estrangeira na educação infantil?

A experiência no ensino de línguas nos demonstrou que não há uma receita mágica para o ensino-aprendizagem de PLE, uma vez que o sucesso de uma atividade vai depender de muitos fatores tais como: a idade da turma, o contexto socioeconômico, os interesses, nível de alfabetização, etc.

Entretanto podemos oferecer alguns recursos que foram repetidos ao longo dos anos com muito bons resultados:

  • Cantar para cumprimentar, cantar pedindo silêncio, cantar para montar uma atividade, cantar para organizar a sala de aula, cantar para despedir-se, etc.

  • Jogar para aprender ou revisar vocabulário, jogar para desenvolver um conteúdo trabalhado com a finalidade de que o aluno coloque em ação a língua, jogar para recriar situações de uso real da língua, etc.

  • Ler um conto por prazer, montar uma história de maneira colaborativa, ler para sistematizar/refletir vocabulário ou adquiri-lo; ler adivinhas, cantigas de roda, parlendas para gerar uma reflexão intercultural, etc.

  • Usar material autêntico (material que não foi criado para o ensino de línguas, mas que pode ser utilizado com esse fim), por exemplo: canções, histórias em quadrinhos, vídeos em youtube, jogos de tabuleiro, filmes, revistas, folhetos, etc.


Além disso sugerimos acompanhar sempre as atividades com elementos audiovisuais, com objetos (fantoches, sacola mágica, elementos de apoio para contação de histórias), com espaços da expressão da língua como o cantinho de português onde os alunos penduram seus trabalhos realizados

Os objetos são recursos motivadores que animam os alunos nessa faixa etária e ajudam na organização dos momentos da aula, por exemplo: aparece o chapéu porque começa o momento de escuta de um conto, a professora trouxe a sacola mágica porque há trabalho com objetos que serão retirados daí.


Portanto, sugerimos fazer foco nos materiais e nas estratégias de trabalho que serão levadas em conta pelo professor ou professora para desenvolver a LE na sala de aula, sem esquecer o nível dos alunos. Visto que eles serão a chave de abertura da aquisição e construção da língua estrangeira. A partir desses recursos se constroem espaços de interação e reprodução da LE.


A continuação, deixamos um plano de aula trabalhado no jardim de crianças de uma escola estadual do bairro de Palermo, como exemplo de como desenvolver uma aula bem sucedida nessa faixa etária.


Plano de aula de exemplo: Oficina 4 - Laura Vizcaya e Verónica Álvarez

 

Referência Bibliográfica


Da Silva Souza Arlei (2015). O processo de aquisição de um segundo idioma em crianças e adultos. Estação Científica – Juiz de Fora, N° 14.


Revuz Christine (2003). A linguagem estrangeira entre o desejo de um outro lugar e o risco do exílio. Ed. Mercado das Letras. FAEP. UNICAP.


Bacelar, Edeline e outros. A teoria Piagetiana da aquisição da linguagem. (em linha: https://recantodasletras.com.br/artigos-de-educacao/3367607)


Emilia Ferreiro, a estudiosa que revolucionou a alfabetização (2008). Revista Nova Escola . (Em linha: https://novaescola.org.br/conteudo/338/emilia-ferreiro-estudiosa-que-revolucionou-alfabetizacao )

Diagnóstico na alfabetização para conhecer a nova turma (2009). Revista Nova Escola. (Em linha: https://novaescola.org.br/conteudo/2489/diagnostico-na-alfabetizacao-para-conhecer-a-nova-turma )

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